Há algumas obviedades que se tornam robustas porque os estudos corroboram a percepção empírica. Enfim, a que me refiro? Não parece compreensível afirmar que pessoas que trabalham em navio de turismo sofrem com a solidão durante as viagens? Ainda que o navio esteja lotado de turistas, para quem trabalha a bordo prestando serviço, há um momento em que se sentirá só. Os períodos passados em alto mar o distanciam da convivência com a família e entes queridos, daí a solidão. Como observei na abertura deste post, muitas vezes, o que atesta o que parece óbvio é a comprovação por meio de estudo. Caso de um estudo que utilizou relatos online, publicado em setembro deste ano, na Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, da Fundação Jorge Duprat de Segurança e Medicina do Trabalho, que relaciona a qualidade de vida de trabalhadores brasileiros embarcados em modernos navios de turismo especializados em cruzeiros marítimos.

Nancy Oliveira Monteiro, Gustavo Cardoso Peterlevitz e Rodolfo Eduardo Scachetti, do curso de Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia do Mar da Unifesp, analisaram o conteúdo de 23 blogs de adultos jovens em atividade nessas embarcações. Não costuma haver pesquisa sobre a qualidade de vida do trabalhador embarcado na literatura brasileira, pelas limitações de um acesso a essa classe enquanto trabalham no mar, explicam os autores. Nos blogs analisados, 15 responsáveis (65%) eram do sexo feminino e 8 (35%), do sexo masculino. Entre os temas mais citados estavam queixas e benefícios. Em relação às queixas, há as relacionadas ao desconforto e falta de privacidade na cabine e à baixa qualidade da alimentação para os trabalhadores. Nos problemas de saúde constam relatos de dor física, exaustão, perda de peso e distúrbios do sono. Também há testemunhos acerca de dificuldades na organização do trabalho, hierarquia nos postos de trabalho baseada na nacionalidade do trabalhador, desvio de função, carga horária excessiva, instabilidade e imprevisibilidade para receber o salário e situações de abuso de poder.

Sob o ponto de vista psicológico, há relatos de ansiedade, estresse, medo de acidentes, solidão, saudade da família e de amigos. Não apontei, no início deste post, que apenas com um estudo, inclusive bem original dos alunos da Unifesp, seria possível validar a percepção que temos desses trabalhadores.
Emily Sobral

Jornalista em SST
(11) 4238-1955 / 99655-0136
www.segurancaocupacionales.com.br

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